A rinossinusite crônica é uma inflamação crônica altamente heterogênea do trato respiratório superior causada por uma disfunção imune nos seres humanos. Entretanto, a etiologia subjacente dessa doença ainda não foi bem estabelecida. Diversos estudos revelaram que anormalidades nos níveis séricos de vitamina D podem desempenhar um papel na fisiopatologia da doença.
ObjetivoFazer uma metanálise de estudos para comparar os níveis séricos de vitamina D entre pacientes com rinossinusite crônica e controles saudáveis e avaliar as potenciais associações do nível sérico de vitamina D com a ocorrência da doença.
MétodoSeguindo as diretrizes Prisma, bancos de dados relevantes, inclusive Pubmed, Web of Science, Embase e Cochrane Library, foram pesquisados desde a sua data de início até 1° de dezembro de 2018. A simetria do gráfico de funil (funnel plot symmetry) e o teste de Egger foram usados para detectar o viés da publicação. Os desfechos foram apresentados como diferença média ponderada e combinamos a diferença média ponderada e intervalos de confiança de 95% para estimar a diferença dos níveis séricos de vitamina D entre pacientes com rinossinusite crônica e os controles. O valor de I2 de Higgins foi usado para testar a heterogeneidade entre os estudos incluídos.
ResultadosDos 176 estudos que identificamos, apenas oito, que envolveram 337 pacientes com rinossinusite crônica e 179 controles saudáveis, preencheram os critérios e foram incluídos na metanálise. Em uma análise combinada de todos os estudos, a diminuição do nível sérico de vitamina D foi demonstrada na rinossinusite crônica (DMP=−7,80, IC95% −13,28±−2,31, p=0,000). Análises de subgrupos com base no local do estudo (EUA vs. Não EUA), tipos de biomarcadores (25[OH]D3 vs. 25[OH]D) e desenho do estudo (retrospectivo vs. prospectivo) não explicaram a heterogeneidade. No entanto, o fenótipo da rinossinusite crônica (rinossinusite crônica com pólipos nasais vs. rinossinusite crônica sem pólipos nasais) pode explicar algum grau de heterogeneidade. Contudo, um nível sérico mais baixo de vitamina D foi observado em pacientes com rinossinusite crônica com pólipos nasais.
ConclusãoNossos achados indicam que o nível sérico de vitamina D pode estar associado à rinossinusite crônica, pois detectamos uma associação significante entre níveis séricos mais baixos de vitamina D em pacientes com rinossinusite crônica, especialmente na rinossinusite crônica com pólipos nasais. No entanto, mais estudos abrangentes são necessários para se chegar a conclusões abalizadas.
A rinossinusite crônica (RSC) é uma doença da mucosa nasal e paranasal caracterizada pela inflamação persistente com a presença de células inflamatórias distintas. Estudos epidemiológicos revelaram ampla variação na prevalência de RSC entre as regiões do mundo.1 Segundo os dados do European Position Paper on Rhinosinusitis and Nasal Polyps (EPOS2012), a prevalência global de RSC é de 5% a 15% nas populações ocidentais. Além disso, a RSC foi classificada entre os 10 problemas de saúde mais custosos para os empregadores dos EUA, superou até mesmo a asma.1,2 Assim, acreditamos que a RSC ainda é uma doença subvalorizada, que representa uma grande carga social e econômica.
A patogênese específica da RSC ainda não está clara. No passado, foi considerada uma inflamação crônica supurativa causada por infecção bacteriana. Atualmente, cada vez mais estudos têm demonstrado que a RSC é uma inflamação crônica altamente heterogênea do trato respiratório superior, causada por uma disfunção imune nos seres humanos.3 Com base nos achados radiológicos e endoscópicos, a RSC pode ser dividida em dois fenótipos clínicos: RSC com pólipos nasais (RSCcPN) e RSC sem pólipos nasais (RSCsPN). O mecanismo imunológico dos dois fenótipos é diferente. Resumidamente, a RSCcPN é caracterizada como o produto final do desvio para células Th2, origina interleucinas, tais como IL‐4, IL‐5, IL‐13. Em contrapartida, a RSCsPN é tipicamente considerada como uma inflamação da via Th1, inclusive a produção predominante de IFN‐γ.1
Geralmente considera‐se que a vitamina D possa manter um equilíbrio saudável de cálcio e fósforo e que desempenhe um papel importante no metabolismo ósseo.4 Até o momento, cada vez mais estudos têm revelado que a vitamina D tem uma ampla gama de funções biológicas, não apenas no metabolismo do cálcio e do fósforo, mas também na secreção de hormônios, na proliferação e diferenciação celular. Como um hormônio esteroide imunomodulador, a vitamina D3 (VD3) regula diretamente uma variedade de tipos de células, inclusive monócitos, macrófagos, células epiteliais, células dendríticas e células‐T. Através do bloqueio da diferenciação e maturação de monócitos para células dendríticas (CDs), diminui‐se dessa forma a estimulação das CDs na diferenciação Th1/Th2 das células T, a vitamina D influencia o processo de resposta imune.5,6 Embora os mecanismos exatos permaneçam incertos, evidências recentes sustentam que a vitamina D pode ter um papel importante na fisiopatologia da RSC. Os níveis séricos de 25‐hidroxivitamina D (25(OH)D) são considerados as principais formas de circulação da vitamina D e são representativos do status da vitamina D no organismo. Além disso, alguns autores indicam que a VD3 é mais apropriada do que a vitamina D2 para sustentar níveis adequados de 25(OH)D; além disso, a deficiência de vitamina D também tem sido associada à RSCcPN.7–9Que seja de nosso conhecimento, não foram feitas avaliações sistemáticas e metanálises sobre a relação entre os níveis séricos de vitamina D em indivíduos com RSC ou controles saudáveis. Até o momento, esta é a primeira metanálise para investigar as possíveis associações entre os níveis séricos de vitamina D e RSC.
MétodoEstratégia de buscaNossa metanálise foi feita de acordo com as recomendações das diretrizes Prisma (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta‐Analyses).10 Vários bancos de dados e mecanismos de busca relacionados foram usados neste estudo. As bases de dados PubMed, Embase, Cochrane Library e Web of Science foram pesquisadas até 1° de dezembro de 2018 para identificar artigos elegíveis com os seguintes termos: “vitamin D [MeSh Terms]” OR “25‐hydroxyvitamin D[Title/Abstract]” OR “25(OH) vitamin D [Title/Abstract]” OR “25(OH)D[Title/Abstract]” OR “cholecalciferol[Title/Abstract]” OR “calcitriol[Title/Abstract]” OR “ergocalciferols[Title/Abstract]” combinados com “chronic rhinosinusitis[Title/Abstract]” OR “chronic sinusitis[Title/Abstract]” OR “CRS[Title/Abstract]”. Referências de artigos e revisões também foram pesquisadas manualmente para adição de outros estudos potencialmente elegíveis. Somente os estudos mais recentes e com dados suficientes foram mantidos, quando os dados apareciam duplicados em diferentes estudos.
Critérios de inclusão e exclusãoOs estudos foram incluídos na metanálise caso atendessem aos requisitos abaixo: (1) estudos que comparassem o nível sérico de vitamina D entre indivíduos com RSC e controles; (2) artigos com uma definição clara de casos e controles; (3) medição da vitamina D com o método‐padrão, de forma expressa ou podendo ser convertida em unidade internacional (ng/mL); 11 (4) artigos publicados em inglês.
Os critérios de exclusão foram os seguintes: (1) pacientes com outros fatores de risco, inclusive asma, rinite alérgica, infecção fúngica, tumor nasal e assim por diante; (2) estudos em animais, resumos, cartas, editoriais, revisões, opiniões de especialistas; (3) artigos sem dados suficientes; (4) o texto completo do artigo não estava disponível em inglês. A decisão final foi obtida através de consenso.
Seleção do estudo e extração de dadosDois revisores independentes revisaram todos os artigos elegíveis para inclusão ou para exclusão. No caso de conflitos na extração ou na avaliação da qualidade dos dados, esses eram resolvidos por um terceiro revisor. Os dados foram extraídos e registrados em um formulário de extração de dados. As seguintes informações foram coletadas os seguintes dos estudos incluídos: primeiro autor, ano de publicação, região ou país, desenho do estudo, número de participantes, características básicas dos indivíduos, média do nível de vitamina D e seus desvios‐padrão, valor de corte da vitamina D. Caso fosse necessário, o autor do artigo era contatado para a obtenção de dados não publicados. O estudo era excluído caso nossas tentativas de contato falhassem por duas vezes.
Avaliação de qualidadePara a avaliação da qualidade dos estudos incluídos foi usada a Newcastle‐Ottawa Quality Assessment Scale (NOS), que consiste em três partes: seleção dos grupos de estudo (4 escores), comparabilidade dos grupos (2 escores) e avaliação de resultados (3 escores).12 A qualidade dos estudos foi classificada como ruim, intermediária ou alta, com os escores ≥ 6 considerados como estudos de alta qualidade. As discordâncias foram resolvidas através de discussões com um terceiro investigador.
Análise estatísticaOs dados extraídos foram agrupados com o pacote de software STATA (versão 15.1; Stata Corporation, College Station, Texas, EUA). Os desfechos contínuos foram apresentados como diferença média ponderada (DMP) e o intervalo de confiança (IC) de 95% foi usado para avaliar a precisão e significância desse ponto da estimativa. O gráfico em floresta (forest plot) foi testado nos modelos de efeitos fixos ou aleatórios. No caso de heterogeneidade considerável entre os estudos combinados, foi considerado o modelo de efeitos aleatórios. A estatística I2 de Higgins foi usada para testar a heterogeneidade entre os estudos incluídos.13 Um valor de I2 <25% geralmente pode ser interpretado como um indicador de heterogeneidade leve. Um valor de I2 entre 25% e 50% corresponde a uma heterogeneidade moderada, enquanto I2> 50% corresponde a uma heterogeneidade significativa. Para descartar a super‐representação dos resultados de um único estudo na metanálise, fizemos a análise de sensibilidade, eliminamos cada estudo individualmente. O gráfico de funil e o teste de Egger foram usados para avaliar o possível viés de publicação. Todos os testes estatísticos foram bilaterais e o valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significante.
ResultadosCaracterização dos estudos selecionadosO fluxograma deste estudo é apresentado na figura 1. Nossa estratégia de pesquisa identificou 176 artigos, inclusive 30 artigos do banco de dados Pubmed, 89 artigos do Embase, 0 artigo da Cochrane Library e 57 artigos do Web of Science. Cento e dez estudos foram avaliados após a remoção de duplicatas. Após avaliar os títulos e os resumos, 25 estudos foram selecionados para leitura de texto completo. Por fim, oito estudos foram incluídos na metanálise atual. As características dos estudos estão resumidas na tabela 1. 7,14–20 Esses estudos clínicos incluíram 337 pacientes com RSC e 179 controles saudáveis. Todos os estudos foram publicados em inglês. Cinco estudos 7,14–16,20 compararam tanto a RSCcPN quanto a RSCsPN com os controles. Três estudos 7,18,19 foram feitos como estudos prospectivos e os demais foram retrospectivos. A maioria dos estudos usou 20 ng/mL como valor de corte para deficiência de vitamina D. Os resultados da avaliação qualitativa dos estudos incluídos são mostrados na tabela 1. No geral, a maioria dos estudos incluídos nesta metanálise apresentou alta qualidade.
Características de todos os estudos incluídos
Autor | Ano | País | Tipo de estudo | N° de participantes | Nível de vitamina D (Média±DP) (ng/mL) | Valor de corte | Características basais entre os grupos | Escore NOS |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Mulligan14 | 2011 | EUA | Retrospectivo | RSC: 29Controle: 14 | RSC: 36,62±12,99Controle: 51±4 | <20ng/mL | Nenhuma diferença significativa em relação a gênero, etnia, IMC. | 7 |
Mulligan15 | 2012 | EUA | Retrospectivo | RSC: 22Controle: 14 | RSC: 30,07±6,96Controle: 38,4±14 | <20ng/mL | NF | 6 |
Mulligan16 | 2014 | EUA | Retrospectivo | RSC: 85Controle: 21 | RSC: 29,31±15,91Controle: 37,48±20,89 | <32ng/mL | NF | 6 |
Carroll17 | 2016 | EUA | Retrospectivo | RSC: 13Controle: 6 | RSC: 34,5±21,1Controle: 20,8±9,7 | <20ng/mL | A média de idade foi de 52 anos para controles e 50 anos para pacientes com RSCcPN. 25% dos controles e 47% dos pacientes com RSCcPN eram do sexo masculino. | 6 |
Erdag18 | 2016 | Peru | Prospectivo | RSC: 46Controle: 40 | RSC: 13,38±14,08Controle: 10,57±6,44 | <20ng/mL | Nenhuma diferença significativa em relação a idade, sexo. | 7 |
Mostafa7 | 2016 | Egito | Prospectivo | RSC: 30Controle: 19 | RSC: 38,6±28,2Controle: 63,3±17,3 | NF | Nenhuma diferença significativa em relação a idade, sexo. | 7 |
Shanaki19 | 2017 | Irã | Prospectivo | RSC: 45Controle: 44 | RSC: 16,62±5,16Controle: 26,08±14,16 | <20ng/mL | NF | 6 |
Wang 20 | 2018 | China | Retrospectivo | RSC: 67Controle: 21 | RSC: 42,2±11,49Controle: 54,1±17,1 | <20ng/mL | Não houve diferenças significativas em relação a idade, sexo, IMC, histórico de tabagismo, estado atópico e asma | 7 |
IC95%, intervalos de confiança de 95%; DMP, diferença média ponderada; RSC, rinossinusite crônica; RSCcPN, rinossinusite crônica com pólipos nasais; RSCsPN, rinossinusite crônica sem pólipos nasais; NOS, Newcastle‐Ottawa quality assessment scale; NF, não fornecido.
Oito estudos apresentaram dados sobre a vitamina D sérica em pacientes com RSC e controles. Em primeiro lugar, combinamos tanto os dados de RSCcPN como RSCsPN como RSC, totalmente em consonância com o Cochrane Handbook.13 Então, os dados individuais de RSCcPN ou RSCsPN foram definidos diretamente como RSC quando o estudo comparou apenas um deles com os controles. Após a consolidação dos dados, a primeira metanálise foi feita com o modelo de efeitos aleatórios. Os resultados mostraram que havia uma diferença significante nos níveis séricos de vitamina D nos pacientes com RSC quando comparados aos controles saudáveis (DMP=‐7,80, IC95% ‐13,28±‐2,31). Na metanálise do primeiro grupo, houve uma notável heterogeneidade (I2=84,4%, p=0,000) (fig. 2).
Análise de heterogeneidade e subgrupoComo mencionado acima, detectou‐se um nível moderado de heterogeneidade na análise dos oito estudos. Consequentemente, as análises de subgrupo foram feitas de acordo com os fenótipos da RSC (RSCcPN e RSCsPN), tipos de biomarcadores (25[OH]D3 e 25[OH]D), área geográfica (EUA e fora dos EUA) e desenho do estudo (tabela 2). Na análise estratificada por fenótipos da RSC, a DMP sumarizada da RSCcPN (DMP=‐15,21; IC95% ‐26,16– ‐4,25, I2=97,1%, p=0,000) mostrou que houve uma associação significante para a menor concentração sérica de vitamina D em indivíduos com RSCcPN e RSCsPN (DMP=‐4,04; IC95% ‐6,38– ‐1,69, I2=29,3%, p=0.226) (fig. 3). Quando estratificados por região geográfica, estudos feitos nos EUA e fora dos EUA mostraram resultados diferentes. Não houve associação significante entre vitamina D e RSC entre os cidadãos dos EUA (DMP=‐6,67; IC95% ‐14,00–0,65, I2=79,5%, p=0,002), enquanto níveis mais baixos de vitamina D foram associados à RSC em outros países (DMP=‐9,61; IC 95% ‐19,17– ‐0,05, I2=89,0%, p=0,000) (fig. 4). A análise de subgrupos com base nos tipos de biomarcadores (25[OH]D3 e 25[OH]D) indicou que os níveis médios de vitamina D sérica eram significantemente menores entre pacientes com RSC e controles em estudos que avaliaram o status sérico de vitamina D pela medida de 25(OH)D3, mas o mesmo fenômeno não foi encontrado para os estudos que avaliaram o biomarcador 25(OH)D (DMP=‐3,33; IC 95% ‐15,36‐8,69, I2=93,0%, p=0,000) (fig. 5). A análise de subgrupos de estudos retrospectivos mostrou uma associação significante entre menor nível sérico de vitamina D e RSC (DMP=‐8,01; IC95% ‐13,88±2,13, p=0,005), mas com alta heterogeneidade (I2=73,5%). Esses fenômenos não foram vistos nos estudos prospectivos (DMP=‐9,10; IC95% ‐21,25±3,05, I2=91,8%, p=0,000) (fig. 6).
Resumo da DMP e IC95% para os níveis globais de vitamina D em indivíduos com RSC
Subgrupo | N° de estudos | N° de pacientes | N° de controles | DMP (IC95%) | p‐valor | Heterogeneidade I2 (%) |
---|---|---|---|---|---|---|
Global | 8 | 337 | 179 | ‐7,80 (‐13,28– ‐2,31) | 0,000 | 84,4 |
Fenótipo | ||||||
RSCcPN | 8 | 220 | 179a | ‐15,21 (‐26,16– ‐4,25) | 0,000 | 97,1 |
RSCsPN | 5 | 117 | 89a | ‐4,04 (‐6,38– ‐1,69) | 0,226 | 29,3 |
Biomarcador | ||||||
25(OH)D3 | 6 | 246 | 95 | ‐9,77(‐15,81– ‐3,73) | 0,001 | 75,5 |
25(OH)D | 2 | 91 | 84 | ‐3,33(‐15,36– 8,69) | 0,000 | 93,0 |
Área geográfica | ||||||
EUA | 4 | 149 | 55 | ‐6,67 (‐14,00– 0,65) | 0,002 | 79,5 |
Fora dos EUA | 4 | 188 | 124 | ‐9,61 (‐19,17– ‐0,05) | 0,000 | 89,0 |
Desenho do estudo | ||||||
Retrospectivo | 5 | 216 | 76 | ‐8,01 (‐13,88– ‐2,13) | 0,005 | 73,5 |
Prospectivo | 3 | 121 | 103 | ‐9,10 (‐21,25– 3,05) | 0,000 | 91,8 |
IC95%, intervalos de confiança de 95%; DMP, diferença média ponderada; RSCcPN, rinossinusite crônica com pólipos nasais; RSCsPN, rinossinusite crônica sem pólipos nasais; 25(OH)D, 25‐hidroxivitamina D.
Embora o gráfico de funil tenha mostrado uma ligeira assimetria para a associação entre o baixo nível sérico de vitamina D e a RSC (fig. 7), os resultados da análise de sensibilidade sugerem que a influência de cada conjunto de dados individuais nas DMPs agrupadas não foi significante (fig. 8). O valor de p para o teste de Egger foi de 0,916, sugeriu que não houve evidência de viés de publicação nesta metanálise (fig. 9).
DiscussãoA vitamina D, que desempenha um papel essencial na anti‐inflamação e antiproliferação, é conhecida como um imunomodulador. Após a hidroxilação inicial no fígado, a vitamina D transforma‐se no pró‐hormônio calcidiol (25(OH)D3), que irá circular e ativar o calcitriol (1,25 (OH) D3) através da 1‐α‐hidroxilase em tecidos periféricos. Após a ligação ao receptor de vitamina D intracelular (VDR), várias vias de sinalização celular são ativadas.21,22 Estudos in vitro mostraram que a 1.25(OH)D3 pode reduzir a expressão de citocinas pró‐inflamatórias (IL‐6, IL‐8, RANTES, eotaxina) em células epiteliais nasossinusais humanas.23 Além disso, a vitamina D é necessária para a atividade das células T reguladoras e as respostas das células T às infecções.24 Por meio dessas características mencionadas acima, a vitamina D foi considerada um dos importantes fatores que poderiam influenciar a patogênese da RSC. No entanto, conclusões contraditórias foram resumidas por diferentes centros de pesquisa. Portanto, fizemos esta primeira metanálise para avaliar a potencial relação entre o nível sérico de vitamina D e a RSC. Durante a elaboração da estratégia de busca, não houve limitação de período. Entretanto, encontramos oito estudos elegíveis para nossa análise.
Foram identificados na presente metanálise 516 casos em 8 estudos relevantes. E o resultado indicou que o baixo nível sérico de vitamina D estava significativamente associado à RSC sob o modelo de efeito aleatório. O baixo nível sistêmico de vitamina D pode interferir com os mecanismos naturais para limitar a inflamação da mucosa, a propriedade antiproliferativa e antiangiogênica que leva a um episódio de RSC.25–27 Pacientes com RSC sempre apresentaram níveis séricos de vitamina D mais baixos do que os indivíduos saudáveis. Esse resultado de análise está de acordo com um estudo de Faruk, o qual indicou que a vitamina D é protetora contra o desenvolvimento da sinusite e que a falta de vitamina D pode induzir o aparecimento de celulite pré‐septal; também apontou que os sintomas e sinais da RSC poderiam ser aliviados pela administração de vitamina D.28
Entretanto, houve alta heterogeneidade na força das associações entre os estudos. Para melhor explorar essa relação, análises estratificadas foram feitas com base nos dois diferentes fenótipos da RSC e o achado da análise de subgrupos sugeriu que níveis séricos mais baixos de vitamina D estavam relacionados a pacientes com RSCcPN e RSCsPN, principalmente aos primeiros. Esse resultado está em acordo com os estudos retrospectivos, que ilustraram que o estado de deficiência de vitamina D era mais prevalente em indivíduos com RSCcPN.7–9 O estudo de Wang e Mostafa mostrou que o nível de 25(OH)D3 em pacientes com RSCcPN era significantemente menor do que nos pacientes com RSCsPN.7,29 Estudos mostraram que o status da vitamina D está associado à expressão sistêmica de células dendríticas, ativação de células T e fator de crescimento de fibroblastos básico em pacientes com RSCcPN. Além disso, ela pode desempenhar uma função anti‐inflamatória na RSCcPN através da redução da proliferação de fibroblastos de pólipos nasais e sua secreção de metaloproteinases de matriz e citocinas.17
Incluindo sexo, etnia, estação do ano, índice de massa corporal e área geográfica, esses fatores eram conhecidos por influenciar aleatoriamente a 25(OH)D sérica. Pinto et al. observaram que os níveis séricos em pacientes negros americanos com RSC eram significantemente menores do que aqueles em grupos controle pareados por etnia e sexo, embora não houvesse diferença significante entre os indivíduos brancos com a mesma estratégia combinada.9 Isso indica que os hábitos da dieta ou a etnia podem ser um fator importante que afeta o nível sérico de vitamina D. Nesta metanálise separamos esses fatores, inclusive estudos em dois subgrupos (EUA e fora dos EUA) para explorar a heterogeneidade dos artigos incluídos. Como a figura 4 demonstrou, o grupo fora dos EUA pareceu apresentar uma diferença de vitamina D sérica entre pacientes com RSC e indivíduos saudáveis. Os diferentes resultados dos dois grupos pode ter sofrido interferência de alguns outros fatores de risco, como a latitude geográfica ou a idade dos pacientes. Por exemplo, os dados mostraram que as pessoas na latitude norte sempre apresentavam um baixo nível sérico de vitamina D devido à menor exposição ao sol. Além disso, observou‐se que o envelhecimento também afeta o status sérico de vitamina D.30 A homogeneidade dos indivíduos deve ser observada em estudos futuros.
Que seja de nosso conhecimento, esta é a primeira análise cumulativa que comparou o nível sérico de vitamina D em pacientes com RSC e indivíduos saudáveis. Os pontos fortes do presente estudo são: (1) nossa análise incluiu todos os estudos disponíveis que investigaram a associação entre o nível sérico de vitamina D e a RSC e a estratégia de busca e a análise foram feitas de maneira imparcial e sistemática, de acordo com os padrões Cochrane; (2) a análise de sensibilidade e a detecção de viés de publicação sugeriram que a conclusão desta metanálise é bastante estável. Embora nossos resultados forneçam evidências convincentes para apoiar o fenômeno de que o status sérico de vitamina D pode ser um fator de risco para a RSC na população geral, também foram encontradas limitações em nosso estudo, assim como em outros estudos observacionais. Por exemplo, apenas 8 estudos foram incluídos e alguns deles não tinham alta qualidade. O fato de que nenhum ensaio clínico randomizado (ECR) foi incluído pode resultar em um viés inevitável. A maioria dos estudos incluídos era retrospectiva, o que implicou um desenho de caso‐controle e, portanto, havia viés de seleção e de memória. Em segundo lugar, houve heterogeneidade entre os diferentes estudos. Por meio da análise de subgrupos, notamos que o fenótipo da RSC pode ser a razão da heterogeneidade nesta metanálise. Por fim, eliminamos alguns estudos publicados por não terem sido escritos em inglês, o que pode levar à deficiência de dados.
ConclusõesNossa metanálise de 8 estudos ilustra o baixo nível sérico de vitamina D em pacientes com RSC, o que indica que as pessoas podem se beneficiar da suplementação apropriada de vitamina D. Portanto, devido à heterogeneidade da doença, futuramente devem ser feitos ECRs prospectivos mais bem desenhados para validar ainda mais esses achados na população geral.
FinanciamentoBolsa da Deep Underground Space Medical Center Research Foundation da Sichuan University (DUGM201804).
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Li B, Wang M, Zhou L, Wen Q, Zou J. Association between serum vitamin D and chronic rhinosinusitis: a meta‐analysis. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:178–87.
A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial.