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Vol. 88. Núm. 6.
Páginas 821-822 (Novembro - Dezembro 2022)
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Editorial
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Cirurgia robótica transoral em otorrinolaringologia: uma nova fronteira a ser conquistada
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Adriano Santana Fonsecaa,b
a Nicholson Center, Orlando, Estados Unidos
b Oncoclinicas, Santa Casa Bahia, Salvador, BA, Brasil
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O termo “robótica” foi inicialmente usado por Isaac Asimov em seu artigo de ficção Robot Stories.1 A cirurgia robótica consiste no uso de um dispositivo eletromecânico, manipulado por um cirurgião treinado para controlar braços computadorizados.2 A cirurgia robótica oferece acesso a sítios cirúrgicos com visualização limitada, potencializada por uma visão tridimensional e instrumentos que permitem trabalhar em áreas onde habitualmente os movimentos seriam restritos.

Aprovado pelo FDA desde 2009, o uso da cirurgia robótica data de 1993. Entretanto, a maioria das evidências científicas foi publicada nos últimos três anos. Uma revisão da literatura de 2021 identificou 154 ensaios clínicos, 43 randomizados e três em otorrinolaringologia.3

Diferentemente de outras especialidades cirúrgicas, os otorrinolaringologistas ainda não incorporaram a robótica como procedimento cirúrgico padrão. O fato de que os robôs foram desenvolvidos para cirurgia abdominal, sem foco particular na otorrinolaringologia, fez com que em todo o mundo a especialidade se adaptasse ao uso dessas plataformas robóticas para procedimentos transorais. No entanto, a técnica resultou em grandes vantagens para pacientes e cirurgiões.

Além das vantagens já citadas, observou‐se ao longo do tempo que a cirurgia robótica transoral (TORS, do inglês transoral robotic surgery) desenvolveu procedimentos mais padronizados, facilitam tanto a reprodutibilidade quanto o ensino.

Aplicação clínicaDoenças malignas da orofaringe

Em pacientes bem selecionados, a cirurgia robótica transoral oferece vantagens sobre procedimentos mais agressivos. Os benefícios da TORS são maiores para pacientes cuja ressecção cirúrgica pode reduzir ou eliminar a necessidade de terapia adjuvante, abordagens abertas ou quimiorradiação primária.3 A cirurgia a laser transoral usa a mesma abordagem transoral, mas é limitada por cortes tangenciais, risco de queimaduras na via aérea e hemostasia limitada. Além disso, a técnica a laser dificulta a ressecção “em bloco” de tumores. Nesse caso, a TORS, por seus recursos citados, oferece vantagens sobre outras técnicas cirúrgicas.

Metástases cervicais de primário desconhecido

A TORS também se tornou uma ferramenta valiosa na investigação de pacientes com câncer primário desconhecido (CUP, do inglês Cancer of unknown primary). A tonsilectomia palatina e a mucosectomia lingual robótica permitem a identificação do sítio primário do carcinoma em 72‐82% dos pacientes, com consequente redução da toxicidade da quimiorradiação. A literatura mostrou que a TORS pode resultar na remoção completa do tumor em 78% dos pacientes.3

Tratamento da doença laríngea

A TORS é aplicada com sucesso em cirurgias supraglóticas, tanto em lesões benignas como malignas. Embora laringectomias robóticas totais já tenham sido descritas, o acesso à glote e subglote é limitado sem a tecnologia de única porta (SP).

Apneia obstrutiva do sono (AOS) e ronco

A melhor estratégia de tratamento para apneia do sono é determinada por uma boa seleção de pacientes. A pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP, do inglês continuous positive airway pressure), apesar de comprovadamente eficaz, apresenta baixa adesão em longo prazo.4 A TORS foi usada inicialmente em 2010 como um tratamento alternativo para AOS, aborda a obstrução oro/hipofaríngea.4 A redução da base da língua (BOT) e a supraglotoplastia são o foco principal da TORS para o tratamento da AOS. As ressecções podem incluir a tonsila lingual e a base da língua, além de uma epiglotoplastia em casos selecionados.5 As principais vantagens da TORS, em comparação com a cirurgia não robótica, são a visualização tridimensional e detalhada dessa área, permite uma dissecção segura e controle vascular em cada etapa cirúrgica.4

Base do crânio e nasofaringe

O’Malley e Weinstein, em 2007, descreveram a TORS para cirurgia da base do crânio. A primeira aplicação clínica ocorreu em 2012 para a ressecção de um carcinoma nasofaríngeo recorrente com abordagem nasal e oral combinada. Desde então, há vários relatos de casos que descrevem o uso de técnicas robóticas para lesões de base do crânio. Uma vantagem do sistema robótico em relação ao endoscópio é a possibilidade de movimento óptico independente e sem a necessidade das mãos, além da visualização tridimensional; entretanto é ainda limitado pelo espaço estreito, tamanho dos braços e ferramentas limitadas.

Futuro

As tecnologias robóticas estão evoluindo continuamente, fornecem feedback háptico e realidade magnificada com imagens microscópicas. Os avanços nas tecnologias robóticas certamente caminham para suprir as necessidades de todas as especialidades cirúrgicas. A otorrinolaringologia e a cirurgia de cabeça e pescoço já estão avançando na robótica para acesso remoto transoral e cervical. Embora os custos fossem inicialmente altos, hoje em dia são comparáveis a outras tecnologias em ORL, à medida que os robôs se popularizam entre outras especialidades. O sistema robótico pode substituir as plataformas de cirurgia endoscópica e ter uma grande influência na forma como fazemos a cirurgia otorrinolaringológica em um futuro próximo, como aconteceu no passado com a cirurgia endoscópica. Os otorrinolaringologistas atendem muitos pacientes que podem se beneficiar dessa técnica para procedimentos que abordam lesões benignas e malignas. O aumento do número de procedimentos assistidos por robôs pode oferecer aos otorrinolaringologistas a formação e a experiência necessárias para dominar o futuro da cirurgia robótica transoral.

Conflitos de interesse

O autor declara não haver conflitos de interesse.

Referências
[1]
A. Pamar, D.G. Grant, P. Loizou.
Robotic surgery in ear, nose and throat.
Eur Arch Otorhinolaryngol., 267 (2009), pp. 625-633
[2]
A. Tamaki, J.W. Rocco, E. Ozer.
The future of robotic surgery in otolaryngology – head and neck surgery.
Oral Oncology., 101 (2020), pp. 104510
[3]
M. Nakayama, F.C. Holsinger, D. Chevalier, R.K. Orosco.
The dawn of robotic surgery in otolaryngology ‐ head and neck surgery.
Jpn J Clin Oncol., 49 (2019), pp. 404-411
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F. Boehm, R. Graesslin, M.-N. Theodoraki, L. Schild, J. Greve, T.K. Hoffmann, et al.
Current advances in robotics for head and neck surgery – A systematic review.
Cancers, 13 (2021), pp. 1398
[5]
E. Thuler, M.S. Yuri, Q.E. Tominaga, V.S. Santos Jr., F.A.W. Rabelo.
Cirurgia robótica transoral no tratamento cirúrgico da apneia obstrutiva do sono.
Prática em Medicina do Sono. Revinter, 22 (2021), pp. 317-332

Como citar este artigo: Fonseca AS. Transoral robotics in otolaryngology: a new frontier to be conquered. Braz J Otorhinolaryngol. 2022;88:821–2.

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Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
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