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Vol. 81. Núm. 3.
Páginas 336-338 (Maio 2015)
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Miíase cavitária simulando abscesso periamigdaliano
Cavitary myiasis mimicking peritonsilar abscess
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Marcos Aurélio Araújo Silveiraa, Sebastião Diógenes Pinheirob, Viviane Carvalho da Silvac, Mateus Aguiar de Azevedoa, Raphael Oliveira Correiaa
a Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil
b Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil. Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
c Hospital Universitário Walter Cantídio, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil
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Introdução

Miíase é definida como a infestação de tecidos e órgãos causada pelas larvas de moscas. Mais de 150 espécies de dípteros podem causar miíase em humanos.1 Pode ser classificada em cutânea, subcutânea ou cavitária,2 sendo mais prevalente em indivíduos idosos, deficientes e debilitados, e especialmente em países tropicais.3

As larvas podem ocasionar necrose e destruição dos tecidos infestados, originando uma grande variedade de sintomas, dependendo dos locais acometidos e da intensidade da infestação. Apesar de muitas vezes o diagnóstico ser evidente, pode ter apresentações clínicas variadas, simulando outras patologias e dificultando seu diagnóstico precoce.

Relato do caso

Paciente, 73 anos, sexo feminino apresentava há uma semana febre, astenia, odinofagia e episódios de epistaxe por fossa nasal esquerda diária de pequeno volume. A paciente negava eliminação de qualquer corpo estranho por cavidade oral ou nasal. Foi atendida em Unidade de Pronto-atendimento e encaminhada ao serviço de otorrinolaringologia de um hospital terciário no dia seguinte. Apresentava cacosmia e eliminação de crostas nasais de odor fétido há três anos. Informou ser diabética e hipertensa, porém, sem controle adequado.

Na admissão, encontrava-se afebril, orientada e cooperativa, com crepitação em bases pulmonares, e à otoscopia evidenciava-se secreção mucopurulenta em conduto auditivo externo esquerdo. Notava-se abaulamento e hiperemia periamigadaliana esquerda que se estendia para o palato mole. Diante da suspeita inicial de abscesso periamigdaliano, foi realizada punção do abaulamento oral, não sendo drenada secreção. Foi hospitalizada e iniciada antibioticoterapia endovenosa com ceftriaxona e clindamicina. No segundo dia intra-hospitalar, foi submetida à nova punção, igualmente sem drenagem, mas sendo evidenciada saída de larvas pela boca e pela narina esquerda minutos após o procedimento.

Evoluiu nas horas seguintes com septicemia, sendo encaminhada para Unidade de Terapia intensiva devido ao rebaixamento do nível de consciência e dessaturação sanguínea, com necessidade de intubação orotraqueal e ventilação mecânica.

Foi aplicado iodofórmio em cavidade oral e fossas nasais e ivermectina via sonda nasoenteral na dose aproximada de 300ug/kg, além de antibioticoterapia de amplo espectro com piperacilina/tazobactam e vancomicina. Diariamente era realizado exame otorrinolaringológico, com retirada de larvas, totalizando cerca de 150 larvas removidas após 72 horas. Foi realizada tomografia computadorizada de nariz e seios paranasais, ossos temporais, crânio e pulmão (fig. 1).

Figura 1 (A) Larva penetrando em cavidade oral através de palato mole. Tomografia computadorizada (TC) de seios paranasais cortes coronal (B) e axial (C) evidenciando redução de volume de conchas inferiores e material com densidade de partes moles em maxilares, etmoides e esfenoide; nota-se material radiopaco consequente à deposição de iodofórmio; (D) TC de pulmão evidenciando opacidade em terços posteriores de ambos os pulmões.

Apesar da completa remoção das larvas em cavidade oral e nasal, a paciente evoluiu para óbito por insuficiência respiratória secundária à pneumonia no trigésimo dia intra-hospitalar.

Discussão

A paciente apresentou um grande número de larvas, o que ocasionou importante destruição de tecidos locais. Devido ao caráter destrutivo e invasor das larvas, a apresentação inicial simulou um abscesso periamigdaliano; contudo, pela história clínica e evolução, o local inicial de infestação parece ter sido em fossa nasal esquerda. Diante da história clínica pregressa, suspeitamos da possibilidade diagnóstica de rinite atrófica, patologia que, por vezes, é associada à miíase nasal.4 No entanto, como a paciente procurou atendimento médico apenas durante o quadro de miíase cavitária, tornou-se difícil a conclusão diagnóstica de rinite atrófica.

O objetivo do tratamento foi a remoção de todos os organismos invasores.5 Nossa paciente foi tratada com medicação tópica e oral, associada à extração mecânica, com eliminação completa das larvas em cerca de cinco dias. A miíase nasal pode apresentar-se com epistaxe, obstrução nasal, rinorreia, cacosmia, dor facial e cefaleia, e é igualmente prevalente em ambos os sexos.6

Comentários finais

No presente caso, evidenciamos uma apresentação atípica, assemelhando-se inicialmente a abscesso periamigdaliano. Na literatura já foram propostos vários tratamentos para miíase cavitária, que variam desde a extração mecânica até o uso de substâncias tópicas, orais e endovenosas,³ contudo, não existe um consenso sobre a melhor conduta terapêutica para os casos de miíase oral ou nasal. Talvez corroborado pela idade avançada da paciente e pelas comorbidades, a paciente evoluiu para óbito por pneumonia aspirativa.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.


Recebido em 15 de dezembro de 2014;

aceito em 31 de janeiro de 2015

DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2015.01.005

Como citar este artigo: Silveira MA, Pinheiro SD, da Silva VC, de Azevedo MA, Correia RO. Cavitary myiasis mimicking peritonsilar abscess. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:336-8.

* Autor para correspondência.

E-mail:maasilveira@bol.com.br (M.A.A. Silveira).

Bibliografia
[1]
Oral myiasis: report of two cases. Int J Paediatr Dent. 1995;5:177-9.
[2]
Miiase nasal: relato de caso. Rev Bras Otorrinolaringol. 2001;67:581-8.
[3]
Tratamento da miíase humana cavitária com ivermectina oral. Rev Bras Otorrinolaringol. 2001;67:755-61.
[4]
Oral myiasis. Int J Maxillofac Surg. 1988;17:288-9.
[5]
Miíase nasal: relato de caso e revisão da literatura. Arq Int Otorrinolaringol. 2007;11:74-9.
[6]
Nasal myiasis: review of 10 years experience. J Laryngol Otol. 1989;103:489-91.
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Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
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