Lemos com interesse o artigo que foi publicado recentemente por Silva et al. “Fatores influenciadores na qualidade de vida de crianças com implante coclear”1 no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. O objetivo dos autores foi “avaliar os fatores influenciadores na qualidade de vida de crianças com implante coclear, considerando a idade na cirurgia, a idade auditiva, a idade na avaliação, as habilidades auditivas, a linguagem falada, o grau de permeabilidade familiar, a escolaridade e o nível socioeconômico dos pais”.
Parabenizamos os autores por seu valoroso trabalho, mas gostaríamos de fazer alguns questionamentos:
- 1.
O que consideram classe socioeconômica: baixa inferior, baixa superior, média inferior, média, média superior?
- 2.
Por que usaram na pesquisa crianças com IC unilateral?
- 3.
Nas causas da perda auditiva, o que eles consideram como “antecedente familiar”? Genética?
- 4.
Questionários usados: Family Involvement Rating. Children with Cochlear Implants: Parent's Perspectives (CCIPP). “As respostas quantitativas foram analisadas por meio do softwareParent Questionnaire Manager − Parent Views and Experiences Questionnaire Data Entry (ParQ120.exe., version 1.02: ISVR Software, Copyright 2003).” Usaram esses três questionários traduzidos para o português, porém eles foram validados?
- 5.
Na conclusão apresentada pelos autores observamos alguns pontos importantes. “Conclusão: Os fatores influenciadores que se correlacionaram com a qualidade de vida das crianças implantadas foram a maior idade na avaliação, as melhores habilidades auditivas e de linguagem, a escolaridade da mãe e a permeabilidade da família”.5.1 “A maior idade na avaliação” – Implica o maior tempo de uso do implante e reabilitação fonoaudiológica, assim teria qualidade de vida melhor? Quais seriam as explicações que os autores atribuem a essa diferença de qualidade vida de vida de acordo com a idade na avaliação, uma vez que esse dado é bastante conflitante na literatura conforme mencionado na discussão. Quanto à idade da feitura da cirurgia, encontramos diversos artigos na literatura que mostram uma relação da menor idade de implantação com melhores resultados auditivos.2–4 Poderíamos esperar que as crianças implantadas precocemente apresentassem melhores resultados de qualidade de vida também. Com uma amostra maior talvez essa associação pudesse ser observada. Possivelmente o fato de esse estudo incluir apenas crianças implantadas com no máximo 3 anos e 6 meses tenha diminuído a diferença de resultados, uma vez que as crianças implantadas após os 3 anos têm resultados auditivos piores do que as implantadas mais precocemente.5.2 “As melhores habilidades auditivas e de linguagem” – dependem de uma série de fatores: causa da surdez, tempo de uso diário do implante, fonoterapia adequada, comprometimento familiar, convivência com outras crianças e escola.45.3. O segundo parágrafo da conclusão “Esse conhecimento pode guiar o fonoaudiólogo reabilitador a promover melhorias no planejamento da terapia fonoaudiológica especializada...” Consideramos que apesar dos pontos apresentados serem importantes, não deveria fazer parte da conclusão, mas da discussão do artigo.
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Silva VA, Guimarães AC, Castilho AM. Answer to the editor: “Factors influencing the quality of life of children with cochlear implants”. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:120–1.