Caro Editor,
Estou lhe escrevendo em referência a um artigo bastante interessante intitulado “Derivação de uma regra de decisão clínica para predição do desenvolvimento de fístula faringocutânea pós laringectomia”, de Cecatto SB et al.,1 publicado em sua respeitada revista. O artigo está bem escrito, no entanto existem alguns fatores adicionais na etiologia da fístula faringocutânea que os autores não analisaram e que poderiam afetar o resultado, os quais eu gostaria de destacar através de seu prestigiado jornal.
A etiologia da fístula faringocutânea é multifatorial, o que tem sido demonstrado através de múltiplos estudos2 e revisões.3 Existem alguns fatores mais significativos e mais amplamente comprovados na etiologia da fístula faringocutânea que não foram analisados neste estudo, como a transfusão de sangue intra-operatória,3 duração cirúrgica3 e presença de hipotireoidismo.4 A inclusão desses fatores poderia mudar a análise multivariada e, consequentemente a conclusão.
O estudo é bastante original e o desenvolvimento da regra de decisão clínica para a fístula faringocutânea é bastante louvável. Mas existe uma preocupação sobre a amostragem dos pacientes, por exemplo, o número de pacientes que receberam quimioradioterapia (QRT) pré-operatória foi de apenas 15 (8,8%), o que é muito pouco para se chegar a uma conclusão, já que a QRT tem demonstrado ser um dos fatores mais significativos no desenvolvimento de fistula faringocutânea.3,4 O estudo também incluiu alguns pacientes com a doença na fase I que foram submetidos à laringectomia. Essa não é a diretriz adotada atualmente e, portanto, esses pacientes poderiam ter sido excluídos.
A estratificação de pacientes em grupos de risco é uma boa ideia para o uso econômico dos recursos, mas se estudarmos a estratificação com cuidado, a sensibilidade para grupos de alto risco é de apenas 48%, o que é baixa para uma complicação tão importante, e isso lança dúvidas sobre sua aplicação clínica.
Conflitos de interesse
O autor declara não haver conflitos de interesse.
DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2015.08.002
E-mail: saty.bakshi@gmail.com
☆ Como citar este artigo: Bakshi SS. Letter to the Editor. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:687.