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Vol. 81. Núm. 6.
Páginas 579-580 (Dezembro 2015)
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Novas perspectivas em otologia e neurotologia
New insights in otology and neuro-otology
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Carlos Augusto Costa Pires de Oliveiraa
a Programa de Pós-graduação, Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil
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Certamente, pesquisa e inovação são os motores que impulsionam o progresso na Medicina. No entanto, devemos ter cuidado na escolha das mudanças que pretendemos implementar. Nem sempre as coisas são boas por serem novas. Conceitos antigos podem resistir à passagem do tempo, tornando-se clássicos. No Brasil, tendemos a aceitar e a dar início à incorporação de novas ideias e conceitos – na maioria das vezes, vindos de fora. Pior ainda: tendemos a descartar conceitos antigos tão logo nos vemos diante de uma novidade. Em sua maioria, as ideias “velhas” ainda preservam sua validade e podem nos ajudar, juntamente com novos conceitos. Portanto, é uma atitude inteligente selecionar novas ideias enquanto, ao mesmo tempo, mantemos vivas aquelas comprovadamente boas.

Certamente, a subespecialização é um conceito que tem ajudado muito a Otorrinolaringologia. No entanto, ela deve ser construída sobre uma base geral sólida. Uma compreensão geral da Medicina e da Cirurgia Cérvico-Facial tornará possível o estabelecimento de um diálogo permanente entre os especialistas. É essa base comum que manterá unidos e em permanente comunicação os profissionais da Otorrinolaringologia. As micro-subespecialidades jamais serão suficientemente fortes.

Em vista disso, nossos programas de residência devem ser capazes de ensinar todos os aspectos da Medicina e da Cirurgia Cérvico-Facial. Um bom programa não deve permitir que os residentes se tornem subespecializados durante o treinamento; a excelência em alguns campos não é um substituto aceitável para um bom ensino dos cuidados cérvico-faciais, sob todos os pontos de vista.

A excelência de um programa de residência deve ser avaliada por sua capacidade de bem ensinar as mais amplas habilidades de um cirurgião otorrinolaringologista cérvico-facial, exatamente como está definido na descrição da ABORL para as capacitações do otorrinolaringologista.

É assim que ocorre nos Estados Unidos, e certamente essa filosofia fez da Otorrinolaringologia uma especialidade há muito forte e respeitada. E aqui, no Brasil? Estamos seguindo essas diretrizes?

Como podemos desenvolver um especialista nas subáreas de nosso campo? Há algumas décadas, era possível ensinar Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial em um programa de residência com duração de quatro anos. Hoje, isso não é possível, devido ao grande progresso presenciado na Medicina e na Cirurgia Cérvico-Facial. A residência deve formar otorrinolaringologistas gerais com capacidades básicas em todos os campos da especialidade. A subespecialização deve ser perseguida em bolsas assumidas após a residência. Um excelente programa de residência deve ser capaz de ensinar aos residentes todos os aspectos da Otorrinolaringologia, além de ensinar bolsistas em determinadas áreas subespecializadas.

Mas o que todo esse palavrório tem a ver com as novas perspectivas em Otologia e Neurotologia?

A Sociedade Internacional para Neurotologia e Equilibriometria (SNE) foi criada por médicos, assistentes técnicos e engenheiros interessados em Neurotologia durante uma reunião realizada na Clínica Cérvico-Facial da Universidade de Wursburg, na Divisão de Neurotologia, em 25 de maio de 1974. Gottfried Aust, Christian Betow e Erika Claussen de Berlim; Claus Frenz Claussen de Wursburg; Christian Henning de Ulm; Gunter Hortman (engenheiro elétrico), Pedro Estelrrich e Juan Manuel Tato da Argentina estão entre seus fundadores.

Nessa reunião inicial, ficou estabelecido que a SNE teria como interesse maior o diagnóstico do mau funcionamento ou disfunção neurotológica, que compreende os campos do “Exosensorium” humano: Equilibriometria (vertigem, tontura etc.), Audiometria (transtornos da audição, zumbido etc.), Olfatometria (disosmia, anosmia etc.) e Gustometria (disgeusia, ageusia).1

Desde então, a SNE realiza congressos anuais que se alternam entre Bad Kissingen, na Alemanha, em determinado ano, e em algum lugar no exterior no ano seguinte. No total, 41 congressos foram realizados no período de 1974-2014, e todos os continentes já foram anfitriões de pelo menos um deles. O formato das reuniões tem sido sempre o mesmo: duas seções em cada congresso, uma direcionada à neurotologia e a outra ao zumbido. O zumbido tornou-se parte importante da SNE depois que o professor Abraão Shulman, da Universidade Estadual de Nova York, aderiu à Sociedade. Ele tem dedicado sua vida ao estudo do zumbido, tendo gerado um admirável conjunto de conceitos e teorias sobre este sintoma que, hoje em dia, são aceitos como importantes contribuições. As reuniões são compostas por achados científicos dos membros da SNE no formato de apresentações com duração de 15 minutos, discutidas durante cada sessão de apresentação de artigos.

Ao longo desses anos, a SNE tem adotado importantes contribuições de neurotologistas brasileiros. Os professores Yotaka Fukuda, Maurício Ganança e Fernando Ganança, da UNIFESP, e os professores Maudonet e Mezzalira, da Unicamp, já contribuíram para a Sociedade; no passado, uma das reuniões da SNE ocorreu em São Paulo, sob a presidência do professor Maurício Ganança (1987).

Devido a minha associação com o professor Shulman, envolvi-me com a SNE para estudar o zumbido. Nos últimos 18 anos, participei de diversas reuniões da SNE e, em 2014, em Praga, fui eleito – vice-presidente da Sociedade e recebi a missão de organizar o congresso no Brasil, em 2015.

A ideia inicial foi a de organizar o congresso em Brasília, dentro dos mesmos moldes das reuniões realizadas no passado. No entanto, tornou-se claro para mim que seria muito difícil realizar em Brasília com sucesso um congresso que tratasse exclusivamente de neurotologia. Além disso, certamente, o formato das reuniões da SNE não era compatível com a ideia que o brasileiro faz de um congresso.

Quando estamos em apuros, devemos sempre pedir ajuda. Então, convidei o professor Fernando Ganança para que participasse da organização do evento. Ele aceitou e, na verdade, ficou comigo todo o tempo, até o final. Contratamos a empresa de eventos Stela Maris para a organização. Neste ponto, aconteceu uma feliz coincidência: os professores Sady Selaimen e Oswaldo Laércio Cruz estavam cuidando do primeiro Ear Brasil, que deveria ocorrer quase que simultaneamente à SNE. Então, Fernando pensou: Por que não transformamos o Ear Brasil e o congresso da SNE em um único e grande evento? Concordei imediatamente, e, felizmente, Sady e Laércio também aderiram à ideia.

Na ocasião, não percebemos que esta seria uma grande inovação nas reuniões da SNE. Logo surgiram opiniões de membros da SNE manifestando absoluto desacordo com a nossa ideia de realizar o congresso juntamente com outro evento, o que faria da SNE uma coadjuvante nesse cenário.

Assumimos uma firme posição e decidimos seguir em frente com o plano. Programamos palestras de professores brasileiros, montamos mesas redondas mesclando otoneurologistas e otologistas para discussão de temas comuns e mantivemos as seções para apresentações de trabalhos – e ficamos torcendo para que tudo corresse da melhor maneira possível.

O congresso foi um sucesso. Recebemos cumprimentos do professor Claussen, da professora Szirmai e de membros da SNE.

Na verdade, o congresso alcançou altíssimo nível científico, graças aos excelentes trabalhos apresentados por estudantes de pós-graduação e residentes brasileiros. Ali, a inovação estava claramente presente. Mas a mescla de otorrinolaringologistas com diferentes subespecialidades, com o objetivo de discutir problemas comuns, foi um passo à frente no sentido de manter uma base comum de nossa especialidade. No terceiro dia, ocorreu uma completa unidade entre o Ear Brasil e o congresso da SNE, formando um programa comum. Com efeito, a mesa redonda final, combinando neurotologistas e cirurgiões otológicos, foi absolutamente esclarecedora.

Certamente, novas perspectivas em otologia e neurotologia surgiram durante essa experiência memorável. Ficou evidente que uma mistura bem equilibrada de inovação e boa e sólida tradição é o caminho a percorrer. Nosso passado se concretizou, e certamente irá iluminar a caminhada para o futuro.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.


E-mail:cacpoliveira@brturbo.com.br

DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2015.08.003

☆GG Como citar este artigo: de Oliveira CACP. New insights in otology and neuro-otology. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:579-80.

Bibliografia
[1]
Em: Annals of the XXXIX NES Congress. 2012.
Idiomas
Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
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