O carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço é o sétimo tumor maligno mais comum. Os avanços no tratamento melhoraram as taxas de sobrevida global nos últimos anos, embora o prognóstico ainda seja grave.
ObjetivoAvaliar a correlação entre a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons e a tomografia computadorizada no estadiamento de carcinomas espinocelulares da cabeça e pescoço não tratados previamente e verificar qual das duas técnicas de imagem nos fornece mais informações no momento do diagnóstico inicial.
MétodoOs dados de todos os pacientes diagnosticados em nosso hospital com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço por biópsia de qualquer região ou adenopatias de origem desconhecida foram colhidos no período entre janeiro de 2012 e julho de 2017. Em todos os casos, uma tomografia computadorizada e uma tomografia computadorizada por emissão de pósitrons foram realizadas com um máximo de 30 dias de diferença entre elas. Nenhum paciente deveria ter recebido tratamento antes do estadiamento. O estadiamento atribuído a cada caso foi comparado com base apenas no exame físico, pela tomografia computadorizada ou apenas pela tomografia computadorizada por emissão de pósitrons, com relação ao estadiamento concedido pela margem tumoral, observou‐se a concordância obtida pelo teste estatístico de V de Cramer.
ResultadoRealizamos a análise comparativa obtendo uma correlação de 0,729 entre o estadio concedido pela margem tumoral e aquele atribuído com base no exame físico sem técnicas de imagem. Usando apenas a tomografia computadorizada como método de imagem, a correlação foi de 0,848, enquanto que a correlação com a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons foi estimada em 0,957. Ao comparar a associação estatística entre o estadiamento usando exclusivamente uma das duas técnicas de imagem, foi de 0,855.
ConclusãoTomografia computadorizada por emissão de pósitrons é útil para o diagnóstico de carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, melhora o estadiamento, especialmente na detecção de metástases cervicais e à distância. Portanto, concluimos que seu uso para o estadiamento de pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço é um exame diagnóstico a ser considerado.
O carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço (CECCP) é o sétimo tumor maligno mais comum, com incidência crescente em todo o mundo, com aproximadamente 600.000 novos casos diagnosticados por ano,1 representa até 4% dos novos diagnósticos de câncer e a oitava causa de morte por câncer.2
Os avanços no tratamento melhoraram as taxas de sobrevida global nos últimos anos, embora o prognóstico ainda seja grave. A sobrevida global em 5 anos varia entre 45% e 55%, embora os pacientes diagnosticados em estágios iniciais tenham até 80% de sobrevida, depende da localização do tumor; 60% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, devido à falta de barreiras anatômicas, à abundância de drenagem linfática na área e ao padrão de crescimento infiltrativo.3
O estadiamento inicial do CECCP inclui: exame físico (inspeção, palpação e rinolaringoscopia), tomografia computadorizada (TC) e/ou ressonância magnética (RM), para avaliar a extensão local do tumor primário e o acometimento linfonodal regional.
Vários estudos relataram o benefício da tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET/TC) com o uso do análogo da 18F‐fluorodeoxiglicose (18F‐FDG PET/TC), em comparação com técnicas de imagem convencionais usadas na detecção de invasão de linfonodos cervicais e metástases distantes,4 já que é uma técnica de imagem corporal completa.5–7 Atualmente, o uso da PET/TC é recomendado em casos de acometimento linfonodal regional duvidoso e tumor primário desconhecido (TPD),8 já que essa técnica pode detectar até 1/3 dos tumores primários, altera o manejo clínico da doença.9
A PET/TC é cada vez mais usada no diagnóstico, classificação, estadiamento e avaliação da resposta ao tratamento em uma variedade de tumores malignos. Foi sugerido que a PET/TC pode ser mais precisa do que a tomografia computadorizada e/ou a ressonância magnética na identificação de metástases linfonodais cervicais no CECCP, porque se considera que apresente uma sensibilidade mais alta,10 embora alguns estudos digam que a técnica PET não detecta metástases regionais e distantes de pequeno volume.11
Apesar da melhoria na detecção de adenopatias patológicas regionais, na detecção de metástases distantes e na descoberta de segundas neoplasias primárias, há dados limitados sobre o impacto da PET/TC no estadiamento tumoral em comparação com as técnicas convencionais de imagem, visto que os estudos na literatura médica não são conclusivos devido ao pequeno tamanho das amostras e ao uso de uma variedade de métodos para determinar o desempenho de PET/TC.12
O objetivo deste estudo é avaliar a correlação entre tomografia computadorizada e PET/CT no estadiamento do CECCP dado pelo Tumor Board (Conselho Multidisciplinar de Tumores) do Hospital Universitário Lozano Blesa de Zaragoza, Espanha, a fim de esclarecer qual das técnicas resulta em informações mais precisas.
MétodoOs dados de 44 pacientes foram coletados entre janeiro de 2012 e julho de 2017, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Região de Aragão (CEICA) e do Conselho de Administração do Hospital Clínico Universitário Lozano Blesa.
Os critérios de inclusão foram: diagnóstico por biópsia de CECCP em nosso hospital durante o período de estudo, em qualquer local (seios paranasais, nasofaringe, cavidade oral, orofaringe, hipofaringe, laringe) ou TPD. Os pacientes foram solicitados a fazer uma TC e PET/TC, com um período máximo de 30 dias entre as técnicas, e nenhum tratamento antes do estadiamento. Os estágios foram atribuídos de acordo com a classificação do American Joint Committee on Cancer Staging Manual (AJCC) (7ª edição). Todos os pacientes que não preencheram esses critérios foram excluídos do estudo.
Este é um estudo observacional com dados históricos, feito em um hospital terciário. Todos os pacientes foram submetidos a exame físico (inspeção, palpação e rinolaringoscopia), tomografia computadorizada cervicotorácica com contraste e PET/TC. O protocolo de imagem (TC e PET/TC) foi o seguinte:
A tomografia computadorizada (pescoço e tórax) foi feita após injeção intravenosa de contraste iodado. O primeiro foi centrado na região da cabeça e pescoço (da base do crânio até a entrada torácica, com espessura de 1mm). O segundo foi feito a partir da entrada torácica até as glândulas suprarrenais (espessura de corte de 3mm) logo após o reposicionamento dos braços (de abaixo até acima dos ombros).
A técnica PET‐TC foi executada após os pacientes terem jejuado por pelo menos 6 horas e 60min antes do exame. Todos receberam uma injeção intravenosa do radiofármaco 18F‐FDG, fluorodesoxiglucose, a uma dosagem de 3‐4 MBq/kg. As imagens foram adquiridas da cabeça até a metade das coxas no plano axial e então reconstruídas nos planos coronal e sagital.
Uma biópsia da lesão foi feita para confirmar o diagnóstico de CECCP. Os dados foram então apresentados ao Conselho Multidisciplinar de Tumores do Hospital Universitário Lozano Blesa. O conselho é formado por otorrinolaringologistas, médicos oncologistas, oncologistas especializados em radioterapia, anatomopatologistas, especialistas em medicina nuclear e radiologistas. Após a apresentação de todos os casos, inclusive o exame físico (feito por um otorrinolaringologista) e os testes diagnósticos (avaliados por radiologistas e especialistas em medicina nuclear, a depender do teste feito, radiologistas para TC e especialistas em medicina nuclear para PET/TC), o estágio TNM foi estabelecido de acordo com a classificação do AJCC. O estágio dado a cada caso foi comparado com o estágio dado pelo Tumor Board, usou‐se apenas o exame físico, apenas a TC e apenas a PET/TC, observou‐se a concordância obtida pelo teste estatístico V de Cramer. Além disso, foi feita uma análise de correlação individualizada entre os métodos diagnósticos de T (tumor primário), N (adenopatias patológicas) e M (metástases a distância), agruparam‐se tumores de todas as localizações.
Os dados foram analisados com o software IBM SPSS 19.0 para Windows (IBM Corp., Armonk, NY, EUA). A associação entre as diferentes técnicas foi estabelecida pelo teste estatístico de razão de verossimilhança e quantificada pelo teste V de Cramer. O valor de alfa foi estabelecido em 0,05, correspondeu a um intervalo de confiança de 95%.
ResultadosO número total de pacientes analisados de janeiro de 2012 a julho de 2017 foi de 44, com média de 65,74 anos, foi predominantemente do sexo masculino. As características estão resumidas na tabela 1.
Características dos pacientes
Características | Número de pacientes (%) |
---|---|
Sexo | |
Masculino | 40 (90,9%) |
Feminino | 4 (9,1%) |
Idade | |
Mediana da idade | 65,74 (mín. 30 ‐ máx. 87) |
Localização do tumor primário | |
Seios paranasais | 1 (2,3%) |
Nasofaringe | 6 (13,6%) |
Orofaringe | 8 (18,2%) |
Hipofaringe | 3 (6,8%) |
Laringe | 22 (50%) |
Supraglote | 19 (43,2%) |
Glote | 3 (6,8%) |
TPD | 3 (6,8%) |
Total | |
Estágio | |
I | 1 (2,27%) |
II | 6 (13,64%) |
III | 10 (22,73%) |
IV | 24 (54,54%) |
CSPD | 3 (6,82%) |
TPD, tumor primário desconhecido; CSPD, câncer de sítio primário desconhecido.
Durante a análise comparativa do estadiamento obtido pelo exame físico e o dado pelo Tumor Board, determinou‐se significância estatística (p<0,001) e coeficiente de correlação de V=0,729. Em aproximadamente 50% dos casos de estágio I, II e III, há uma subestimação do estadiamento na consulta médica, comparada com o estadiamento atribuído pelo Tumor Board, enquanto nos casos de estágio IV o diagnóstico clínico foi correto em 100% das vezes. Sem quaisquer técnicas de imagem, 31,81% dos CECCP em nossa série são subestimados, quando comparados com o diagnóstico do Tumor Board, enquanto 2,12% são superestimados (tabela 2).
Correlação entre o estadiamento obtido pelo exame físico e aquele obtido pelo Tumor Board
Estágio Tumor Board | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|
TPD | I | II | III | IV | Total | |
Estágio pelo exame físico | ||||||
TPD | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
I | 0 | 1 | 1 | 0 | 0 | 2 |
II | 0 | 0 | 4 | 1 | 2 | 7 |
III | 0 | 0 | 1 | 9 | 10 | 20 |
IV | 0 | 0 | 0 | 0 | 12 | 12 |
Total | 3 | 1 | 6 | 10 | 24 | 44 |
Cramer V: 0,729, p ˂ 0,001. |
Estágio T pelo Tumor Board | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
TPD | T1 | T1a | T1b | T2 | T3 | T4a | T4b | Total | |
Estágio T pelo exame físico | |||||||||
TPD | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
T1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 2 |
T1a | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
T1b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
T2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 11 | 2 | 1 | 0 | 14 |
T3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 19 | 4 | 0 | 24 |
T4a | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
T4b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Total | 3 | 1 | 1 | 0 | 13 | 21 | 5 | 0 | 44 |
Cramer V: 0,878, p ˂ 0,001. |
Estágio N pelo Tumor Board | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N0 | N1 | N2 | N2a | N2b | N2c | N3 | Total | |
Estágio N pelo exame físico | ||||||||
N0 | 10 | 1 | 0 | 1 | 2 | 3 | 0 | 17 |
N1 | 0 | 5 | 0 | 0 | 0 | 4 | 0 | 9 |
N2 | 0 | 0 | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
N2a | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 2 | 0 | 4 |
N2b | 0 | 0 | 0 | 0 | 5 | 3 | 0 | 8 |
N2c | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 | 0 | 3 |
N3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 |
Total | 10 | 6 | 2 | 1 | 9 | 15 | 1 | 44 |
Cramer: V 0,719, p ˂ 0,001. |
Ao analisar o estágio TNM separadamente, podemos observar que o exame físico como único método diagnóstico tende a subestimar o tumor primário, principalmente nos casos avançados (T3 e T4a), com uma correlação de 0,878. Quando se analisam as adenopatias cervicais, observa‐se o mesmo padrão e em nenhum caso o exame físico subdiagnosticou adenopatias patológicas, enquanto em 18 dos 44 casos totais o estágio N foi subestimado, especialmente a partir de N2b e acima (Cramer V: 0,719). No caso de metástases distantes, elas são indetectáveis, a menos que sejam aplicadas técnicas de imagem (tabela 2).
Quando examinamos a correlação entre o estágio obtido pelo exame físico e a TC, e aquele dado pelo Tumor Board, obtivemos uma significância estatística (p <0,001) e um coeficiente de correlação de V=0,848. Em 5 dos 44 casos (11,36% de nossa série), a TC não mostrou claramente o tumor primário, 3 deles eram TPD. Em nossa casuística, ao excluir a PET/TC dos testes diagnósticos, o estágio é subestimado em 18,18% das vezes e superestimado em 4,54% (tabela 3).
Correlação entre o estadiamento obtido pelo exame físico e TC e aquele dado pelo Tumor Board
Estágio pelo Tumor Board | |||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Tumor não detectado | TPD | I | II | III | IV | Total | |
Estágio pelo exame físico+TC | |||||||
Tumor não detectado | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 2 |
TPD | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
I | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 1 |
II | 0 | 0 | 0 | 5 | 2 | 1 | 8 |
III | 0 | 0 | 0 | 0 | 7 | 3 | 10 |
IV | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 | 18 | 20 |
Total | 0 | 3 | 1 | 6 | 10 | 24 | 44 |
Cramer V: 0,848, p ˂ 0,001. |
Estágio T Tumor Board | ||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Tumor não detectado | TPD | T1 | T1a | T1b | T2 | T3 | T4a | T4b | Total | |
Estágio T pelo exame físico+TC | ||||||||||
Tumor não detectado | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 | 0 | 0 | 2 |
TPD | 0 | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
T1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
T1a | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
T1b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
T2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 11 | 1 | 0 | 0 | 12 |
T3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 19 | 0 | 0 | 19 |
T4a | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 5 | 0 | 6 |
T4b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Total | 0 | 3 | 1 | 1 | 0 | 13 | 21 | 5 | 0 | 44 |
Cramer V: 0,912, p ˂ 0,001. |
Estágio N Tumor Board | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N0 | N1 | N2 | N2a | N2b | N2c | N3 | Total | |
Estágio N pelo exame físico+TC | ||||||||
N0 | 10 | 3 | 0 | 1 | 1 | 0 | 0 | 15 |
N1 | 0 | 3 | 0 | 0 | 0 | 2 | 0 | 5 |
N2 | 0 | 0 | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
N2a | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 |
N2b | 0 | 0 | 0 | 0 | 6 | 5 | 0 | 11 |
N2c | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 8 | 0 | 9 |
N3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 |
Total | 10 | 6 | 2 | 1 | 9 | 15 | 1 | 44 |
Cramer V: 0,742, p ˂ 0,001. |
A análise separada do TNM indica uma boa correlação para o diagnóstico do tumor primário com o uso apenas da TC como exame de imagem (Cramer V=0,912). Em 38 dos 44 casos houve concordância, foram 3 casos de TPD e não visualização do tumor primário em 2 casos. Em relação à análise de N, observa‐se que a TC tende a subestimar essas lesões (Cramer V=0,742), principalmente em estágios avançados (N2b e acima, a maioria dos erros ocorreu no estágio N2c). Como no caso anterior, não foi possível avaliar metástases a distância, uma vez que a TC feita não é um exame de corpo inteiro (tabela 3).
Ao estudar a correlação obtida entre o estadiamento baseado no exame físico e a PET/TC e aquele dado pelo Tumor Board, obtém‐se significância estatística (p <0,001) e coeficiente de correlação de V=0,957. Quando excluímos a TC dos nossos testes diagnósticos e usamos a PET/TC como única técnica de imagem, obtivemos uma superestimação de 4,54% no estágio (2 pacientes da série), enquanto nenhuma subestimação foi obtida em comparação com o Tumor Board (tabela 4).
Correlação entre o estadiamento obtido pelo exame físico e PET/TC e o dado pelo Tumor Board
Estágio Tumor Board | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|
TPD | I | II | III | IV | Total | |
Estágio pelo exame físico+PET/TC | ||||||
TPD | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
I | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 2 |
II | 0 | 0 | 5 | 0 | 0 | 5 |
III | 0 | 0 | 1 | 9 | 0 | 9 |
IV | 0 | 0 | 1 | 1 | 24 | 24 |
Total | 3 | 1 | 6 | 10 | 24 | 44 |
Cramer V: 0,957, p ˂ 0,001. |
Tumor Board estágio T | ||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Tumor não detectado | TPD | T1 | T1a | T1b | T2 | T3 | T4a | T4b | Total | |
Estágio T pelo exame físico+PET/TC | ||||||||||
Tumor não detectado | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 | 0 | 0 | 0 |
UPT | 0 | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
T1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
T1a | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
T1b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
T2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 12 | 0 | 0 | 0 | 12 |
T3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 20 | 0 | 0 | 20 |
T4a | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 | 5 | 0 | 7 |
T4b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Total | 0 | 3 | 1 | 1 | 0 | 13 | 21 | 5 | 0 | 44 |
Cramer: V 0,960, p ˂ 0,001. |
Tumor Board N | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N0 | N1 | N2 | N2a | N2b | N2c | N3 | Total | |
Estágio N pelo exame físico+TC | ||||||||
N0 | 9 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 10 |
N1 | 0 | 6 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 6 |
N2 | 0 | 0 | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
N2a | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 |
N2b | 1 | 0 | 0 | 0 | 8 | 0 | 0 | 9 |
N2c | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 15 | 0 | 15 |
N3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 |
Total | 10 | 6 | 2 | 1 | 9 | 15 | 1 | 44 |
Cramer V: 0,897, p ˂ 0,001. |
Estágio M Tumor Board | |||
---|---|---|---|
M0 | M1 | Total | |
Estágio M pelo exame físico+TC | |||
M0 | 38 | 0 | 38 |
M1 | 1 | 5 | 6 |
Total | 39 | 5 | 44 |
Cramer V: 0,901, p ˂ 0,001. |
Nesse caso, ao analisarmos separadamente o estágio TNM, observamos uma boa correlação do T (Cramer V=0,960). O exame físico e a PET‐TC nunca subestimaram o tumor primário e, em dois casos, foram superestimados. Em relação ao N, há uma correlação de 0,897, com poucas discrepâncias na super‐ e subestimação das adenopatias cervicais patológicas. Na avaliação de metástases a distância, apenas em um caso mostrou diferenças, quando a PET‐TC apresentou resultado falso positivo (Cramer V=0,901) (tabela 4).
Por fim, se compararmos os estágios de nossa amostra com base no exame físico e na PET/TC em relação ao exame físico e TC, obtêm‐se significância estatística (p <0,001) e coeficiente de correlação de V=0,855. A TC não mostrou o tumor primário em 5 pacientes, 3 eram TPD. Ao usar a TC, um caso foi identificado como estágio mais alto em comparação com o uso da PET/TC, representou 2,27% da nossa amostra, e 9 casos (20,45%) foram identificados como estágio inferior (tabela 5).
Correlação entre o estadiamento obtido pelo exame físico e a PET/TC em relação ao estadiamento obtido pelo exame físico e TC
Estágio ao exame físico+TC | |||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Tumor não detectado | TPD | I | II | III | IV | Total | |
Estágio pelo exame físico+PEC/TC | |||||||
Tumor não detectado | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
TPD | 0 | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
I | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 1 |
II | 0 | 0 | 0 | 5 | 0 | 0 | 5 |
III | 0 | 0 | 0 | 2 | 6 | 1 | 9 |
IV | 2 | 0 | 0 | 1 | 4 | 19 | 26 |
Total | 2 | 3 | 1 | 8 | 10 | 20 | 44 |
Cramer V: 0,855, p ˂ 0,001. |
Estágio T Exame físico+/TC | ||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Tumor não detectado | TPD | T1 | T1a | T1b | T2 | T3 | T4a | T4b | Total | |
Estágio T pelo exame físico+PET/TC | ||||||||||
Tumor não detectado | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
UPT | 0 | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
T1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
T1a | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
T1b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
T2 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 11 | 0 | 0 | 0 | 12 |
T3 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 18 | 0 | 0 | 20 |
T4a | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 6 | 0 | 7 |
T4b | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Total | 2 | 3 | 1 | 1 | 0 | 12 | 19 | 6 | 0 | 44 |
Cramer V: 0,915, p ˂ 0,001. |
Estágio N Exame físico+TC | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N0 | N1 | N2 | N2a | N2b | N2c | N3 | Total | |
Estágio N pelo exame físico+PET/TC | ||||||||
N0 | 10 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 10 |
N1 | 3 | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 6 |
N2 | 0 | 0 | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
N2a | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 |
N2b | 2 | 0 | 0 | 0 | 6 | 1 | 0 | 9 |
N2c | 0 | 2 | 0 | 0 | 5 | 8 | 0 | 15 |
N3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 1 |
Total | 15 | 5 | 2 | 1 | 11 | 9 | 1 | 44 |
Cramer V: 0,832, p ˂ 0,001. |
Em relação à comparação entre os métodos diagnósticos, no caso da análise do tumor primário há uma correlação de 0,915. Houve quatro ocasiões em que um subdiagnóstico ocorreu com a TC, não se localizou o tumor primário em duas delas. Ao analisar o estágio N, observamos discrepâncias entre a TC e PET/TC, principalmente devido ao subdiagnóstico da TC. A PET‐TC pode diagnosticar adenopatias metastáticas que a TC não detecta e a principal diferença é observada no estágio N2c (ao detectar adenopatias contralaterais). A correlação de ambos os métodos diagnósticos é de 0,832. Como mencionado acima, a TC não avalia o corpo todo, por isso não comparamos metástases a distância (tabela 5).
DiscussãoNo presente estudo, comparamos a utilidade da PET/TC em oposição à TC no estadiamento do CECCP. Diferentes estudos que demonstraram a utilidade da PET/TC no diagnóstico de adenopatias cervicais ipsilaterais e contralaterais foram feitos, demonstraram maior sensibilidade do que a TC ou a RM.13
Atualmente, as técnicas de imagem são essenciais para o diagnóstico, pois são fundamentais para o estadiamento do tumor, especialmente nas fases iniciais da doença, quando o exame físico é insuficiente devido à dificuldade de detectar adenopatias patológicas apenas por palpação ou através da avaliação de infiltração tumoral com um fibroscópio.
As diretrizes clínicas atuais recomendam a PET/TC como opção nos estágios avançados da doença, devido ao baixo desempenho dela em pacientes com estágios I ou II. Essa é a razão pela qual em nossa amostra não há muitos pacientes nos estágios iniciais da doença. Mas, de acordo com os dados analisados, podemos observar que quando usamos PET/TC no diagnóstico de CECCP, alcançamos uma maior precisão estatisticamente significativa do que ao usar a TC, tanto no estágio inicial quanto nos estágios finais da doença.
Da mesma forma, o uso de PET/TC é indiscutível em casos de TPD na localização do tumor primário. Em nossa série, a PET/TC identificou o tumor primário em 3 dos 9 casos em que a TC não teve sucesso. Em outras séries publicadas na literatura, a PET/TC foi capaz de identificar o tumor primário em aproximadamente 30% dos casos.14,15 Embora em nosso estudo a porcentagem seja maior, pode ser devido ao tamanho da nossa amostra. Além disso, o uso da PET/TC, uma técnica de imagem corporal inteira, identificou metástases a distância em 6 casos, enquanto a TC cervicotorácica mostrou apenas um caso (metástase pulmonar). Em geral, o uso de PET/TC reduz o número de intervenções cirúrgicas desnecessárias e aprimora as indicações cirúrgicas nesses pacientes.16,17
Outros estudos publicados demonstraram uma maior precisão no estadiamento de tumores de cabeça e pescoço ao usar PET/TC,5,18 bem como sua utilidade no diagnóstico das adenopatias metastáticas retrofaríngeas, teve grande impacto no prognóstico e no manejo terapêutico desses pacientes.19 Entretanto, os resultados relatados de pacientes que se beneficiaram de uma mudança de estágio pelo exame de TC variam: Keyes et al. publicaram um estudo de coorte retrospectivo em que avaliaram a frequência com que a PET‐TC contribuiu para novas informações significativas em comparação com a avaliação padronizada e informaram que apenas 2% de pacientes foram beneficiados pelo uso do exame PET‐TC.20 Por outro lado, Fleming et al. estudaram retrospectivamente o papel da PET/TC em 123 pacientes com tumores malignos de cabeça e pescoço sem tratamento prévio e encontraram um tratamento inadequado em 30,9% dos pacientes (38 de 123).21
As limitações do nosso estudo são o desenho retrospectivo e o tamanho da amostra. No entanto, os resultados são estatisticamente significantes. Relatamos a utilidade da incorporação da PET/TC ao diagnóstico de pacientes com CECCP, melhora o estadiamento e o plano terapêutico.
Não analisamos a relação custo‐eficácia do uso rotineiro da PET/TC, mas estudos na literatura relatam que a economia em intervenções cirúrgicas desnecessárias é maior do que o custo do uso da PET/TC.22 Outros demonstraram que além de o exame PET/TC pré‐tratamento ser o método diagnóstico mais eficaz, não gera custos extras.23
De acordo com os resultados do nosso estudo, podemos determinar que o uso de PET/CT melhora o estadiamento de pacientes com tumores de cabeça e pescoço, auxilia em um melhor plano terapêutico para cada paciente. Consideramos que esses resultados são representativos da prática clínica usual.
ConclusãoA PET/TC é útil no diagnóstico de CECCP, é mais precisa do que a TC, melhora o estadiamento do paciente, especialmente na detecção de metástases cervicais e a distância. Portanto, concluímos que a PET/TC deve ser considerada no estadiamento de pacientes com CECCP. O impacto terapêutico que a mudança no estadiamento acarretou nesses pacientes ainda não foi avaliado, o que pode ser uma linha futura de investigação para nosso grupo de trabalho.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: García‐Curdi F, Lois‐Ortega Y, Campo AM, McGee‐Laso A, Sebastián‐Cortés JM, Vallés‐Varela H, et al. Correlation between PET/CT and CT in the staging prior to the treatment of head and neck squamous cell carcinoma. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:11–8.
A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial.